segunda-feira, 5 de setembro de 2011

# Coisas que as Bitches Adoram

Bem, esse é o trecho de uma conversa dos personagens de Ever e Miles do Livro estrela da noite da serie os imortais que achei bem interessante e bonito.
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- Haven me ofereceu o elixir - diz Miles - que eu só precisava confiar nela, que o elixir dela era bem melhor que o seu e que tudo que eu precisava fazer era tomar alguns goles e teria saúde eterna, bem-estar eterno, beleza eterna e uma vida eterna por, bem, toda a eternidade.
Engulo em seco, meu olhar está fixo em sua aura, que agora irradia um tom brilhante de amarelo. A única garantia que tenho de que ele não mordeu a isca... pelo menos não até agora.
- E preciso dizer, ela estava tão convincente com aquele tom de voz de vendedora que eu disse que precisava pensar. - Ele dá de ombros. - Disse a ela que iria fazer uma pesquisa por conta própria e que responderia mais ou menos em uma semana.
Então, eu paro, pois são tantas palavras de uma vez só que não tenho ideia de por onde começar.
Mas ele solta uma gargalhada sonora, daquelas de doer  a barriga, e balança a cabeça olhando para mim.
-Relaxe, estou brincando. Quer dizer, nossa, o que você pensa que eu sou... Algum tipo de idiota vaidoso e superficial? - Ele revira os olhos e então se contém e diz: - Desculpe, não quis ofender. Mas o que importa é que eu disse não. Um claro e inconfundível não. E ela me falou que a oferta ainda estaria de pé, que, se a qualquer momento eu mudasse de ideia, a fonte da juventude seria minha.
Olho para ele, vendo-o por uma ótica totalmente diferente. Surpresa por ele ter recusado de verdade uma oferta como aquela. [...]
Ele olha para mim, ergue as sobrancelhas, fingindo estar ofendido, e diz:
- O que foi? Porque está tão surpresa? É porque você imagina que alguém como eu... alguém que ao mesmo tempo gay e ator com certeza não deixaria uma chance dessa passar? - Ele estreita os olhos e balança a cabeça. - Isso é usar estereótipos, Ever. Deveria envergonhar-se por pensar assim.
Ele me lança um olhar de completo desprezo que  faz com que eu me sinta tão mal que me apresse em me defender. Mas, antes que eu comece, Miles faz um sinal para eu não me preocupar. E ri de forma triunfante ao dizer: 
- Há! E isso é o que se chama atuar! - Ele gargalha, todo o seu rosto se ilumina, os olhos brilham de alegria. - Ou pelo menos no finalzinho eu atuei... a parte sobre estereótipos. Todo o restante foi totalmente verdadeiro. Viu como minha habilidade está melhorando? 
Ele passa os dedos pelos cabelos, apoia os cotovelos no balcão e se inclina em minha direção.
- É o seguinte... a única coisa que quero no mundo, o único sonho que tenho, é ser ator. - Ele me olha fixxamente. - Um ator dramático de verdade, dedicado à arte. É meu único objetivo. Minha ambição. Não tenho interesse em me tornar um grande, falso e maquiado astro de cinema. Nem capa viva da People. Não estou nessa área de festas, ou escândalos, ou as idas e vindas das clínicas de reabilitação... estou pela arte. Quero transformar histórias em realidade, encarnar personagens variados. Não sei explicar como me sinto ao me entregar a um papel, é... é incrível. E é algo que quero sentir muitas vezes. Mas quero interpretar todos os tipos de papel... Não apenas personagens jovens e bonitos. E, para que eu aprenda e cresça e me aperfeiçoe, preciso viver. Preciso ter uma vida plena, em todos os seus estágios... juventude, meia-idade, velhice... quero tudo. Não dá para interpretar a vida se não se permite vivê-la. - Ele faz uma pausa breve deixando seus olhos percorrerem meu rosto. - Esse medo da morte do qual conseguiu se livrar, eu o quero. Droga, eu preciso dele! É uma das forças mais básicas e primitivas que temos para nos guiar... Então, por que eu deveria considerar em me livrar disso? As experiências que me permito ter, no fim das contas, só vão alimentar mina arte... mas só se eu ainda for mortal. Não se propositalmente me transformar em um imbecil congelado no tempo, ultraglamouroso, que nunca muda, não importa quantos séculos passem.
Meu olhar encontra o dele, e não sei se me sinto aliviada ou ofendida, mas, no contexto geral, escolho aliviada.
- Desculpe. - Ele dá de ombros. - É sério, sem ofensa. Só estou tentando explicar meu lado. Sem mencionar o fato de que, por acaso, gosto de comer. Na verdade, gosto tanto que nem consigo pensar em fazer uma dieta permanente só de líquidos. E também gosto de ver as mudanças que cada ano que passa traz, as impressões que ele deixa para trás. E, acredite se quiser, também não quero que minhas cicatrizes desapareçam. Gosto delas. São parte de mim... parte da minha história. E algum dia, se tiver sorte o bastante pra chegar a ser velho... e provavelmente impotente, senil, gordo e careca, enquanto vocês continuam exatamente como são hoje... bem, então ficarei contente com minhas lembranças. Quero dizer, considerando que elas não serão todas perdidas em função de Alzheimer ou de algo parecido. Mas é serio, antes que comece a se defender...
Ele tira a mão de cima do balcão e a ergue, percebendo que estou prestes a interrompê-lo.
- Antes que comece a dizer como Damen acumulou mais memória que todos nós juntos e como é perfeitamente equilibrado e alegre, o que eu quero dizer de verdade é: desejo, mais que tudo, chegar ao fim da vida com uma imagem definida de antes-e-depois para poder relembrar. Para mostrar que fiz realmente o melhor que pude com o que tive e que minha vida foi bem-vivida.
Olho para ele, tentando recuperar minha voz e murmurar algum tipo de resposta, mas não consigo. Minha garganta está quente e apertada, completamente fechada. E, antes que consiga me segurar, antes que consiga desviar meu olhar para algo que não seja ele... as lágrimas chegam.
Elas escorrem livremente pelo meu rosto, e sua intensidade aumenta a ponto de eu não conseguir mais parar, não conseguir mais conter o choro e os tremores nem o profundo abismo de desespero que faz minhas estranhas se contorcer. 
paginas 88 e 89.
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 Bitch A.

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